O Ser e o Nada


"Eu vou emergindo sozinho, e, na angústia diante do projeto único e primeiro que constitui meu ser, todas as barreiras, todos os parapeitos desabam, danificados pela consciência de minha liberdade: não tenho nem posso ter qualquer valor a recorrer contra o fato de que sou eu que mantenho os valores no ser; nada pode me proteger de mim mesmo; separado do mundo e de minha essência por esse nada que eu sou, tenho que realizar o sentido do mundo e de minha essência: eu decido, sozinho, injustificável e sem desculpas”.

Eu amo filosofia, então não foi difícil ler as 782 páginas desse livro. Além do que, o francês Jean-Paul Sartre (1905- 1980) é um dos mais famosos filósofos do século 20 e o principal representante do existencialismo francês. 

A história de vida desse pensador é incrível! Ele foi prisioneiro de guerra dos alemães, lecionou em Paris e fundou a revista Les Temps Modernes, que editava com Simone de Beauvoir, sua companheira (leia o livro Tete à Tete, de Hazel Rowley). Sartre não aceitou o Prêmio Nobel de Literatura, alegando que não deveria deixar as instituições o transformarem. E, seu enterro foi acompanhado por 50 000 pessoas. Ele foi uma figura emblemática e em minha opinião o mais importante filósofo do século 20. Manteve uma vida ativa como professor, escritor, crítico social, ativista político, deixando um legado na filosofia que ainda não foi inteiramente assimilado: o compromisso humanista existencial com a liberdade. Sartre fez esta trajetória sem cair em qualquer forma de niilismo e/ou alienação. Ao contrário: a existência humana é a única ancoragem para sua ética, construída como um ato fundamental de escolha, dentro da liberdade.

Se você não sabe o que significa  Ontologia, vou deixar uma breve descrição no final da postagem, bem como, todas as palavras que eu sublinhei. 😉

O livro faz uma análise do ser em sua mais pura essência. Para Sartre, você só sabe, se “sabe que sabe”, ou seja, se tem consciência daquele saber. Pode parecer uma prisão, pelo contrário, aí é que está o cerne da liberdade. Só que Sartre mostra a liberdade como um fardo, por isso diz que o homem está, então, condenado a ser livre.

O pensamento de Sartre conseguiu mudar a humanidade! Ele simboliza o pensamento existencialista, um dos mais fortes do século 20. Os homens se deparam com a “pesada” condenação de serem livres para fazer o que querem de suas vidas, já que eles só existem se existirem para eles mesmos. Não há a “desculpa” do inconsciente, ou seja, Sartre ainda se opôs à psicanálise de Freud.

Na quarta parte do livro, Sartre propõe-se a apresentar o conceito de “liberdade”. Intitulada de “Ter, fazer e ser”, expõe a liberdade concreta, em situação, em oposição a uma liberdade abstrata.  A liberdade, nesse sentido, é compreendida como nadificação, não tem essência, daí a crítica de Sartre a toda forma de determinismo

Sartre faz a defesa de sua ética existencialista (e sua dimensão profundamente humanista) nos lembra: O que as pessoas, obscuramente, sentem, e que as atemoriza, é que o covarde que nós lhe apresentamos é o culpado por sua covardia. 

O que as pessoas querem é que nasçamos covardes ou heróis?

Parece existir aí um paradoxo e é sobre este ponto que vou dirigir minhas reflexões. Porque formulou as bases de uma ontologia enraizada na perspectiva de um período histórico que ainda estamos vivendo. 

"O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós." - JEAN PAUL SARTRE (1905-1980).


Essa obra é um clássico da história da Filosofia, com seu amplo sistema de explicação total do mundo e sua exortação à liberdade humana: o homem está condenado a ser livre.

O livro é um pouco pesado pra quem não é de filosofia.  Mas, se a temática lhe interessa, torço que se interesse pela leitura.  Não se preocupes tanto com a quantidade de informações a que o livro se remete (ele referencia muitos filósofos e dialoga com toda a história da filosofia - por isso as mais de 700 páginas 😏).  Mas, apesar de ter sido escrito em 1943, por incrível que possa parecer, o livro é bem atual. Ele foi pensado com exemplos cotidianos para que alguém que não fosse da filosofia pudesse acompanhar o seu raciocínio.

O Ser e o Nada  torna evidente que a questão "Quem somos?" não pode ser respondida através dos nossos papéis sociais, pois o que fazemos diante da sociedade ou do olhar do próximo é tão fragmentado e relativo ao ponto de tornar insuficiente a criação de uma identidade definitiva e autêntica. 

Não sabemos quem somos, nos falta o ser. Temos que nos contentar com as nossas ações fragmentadas e o consentimento dos outros, pois quando a cortina do palco da vida se fecha, resta apenas o vazio, o nada.


Dicionário:

Existencialismo: 
O existencialismo de Sartre, é um pensamento separativista da percepção e da imaginação, A Existência precede a essência. (resumo do tema existencialismo)

Ontologia:
Está centrada no ser da consciência, enquanto ser que é ao mesmo tempo contingente.

Nadificação:
(nada+ficar) - Segundo a doutrina sartriana, é o processo pelo qual a consciência, exercendo o modo de ser que lhe é próprio, torna para si o que é em si e o anula. Em outras palavras: Nadificar seria transformar em nada.  Esse termo se trata dos fundamentos do existencialismo.

Determinismo:
A liberdade em Jean-Paul Sartre: responsabilidade, angústia e má-fé.  Não há nada que possa eximir o homem da sua condição de ser livre e, consequentemente, da sua condição de responsabilidade diante de seus atos.

Paradoxo:
É também chamado Oxímoro. É definido como aproximação de palavras contrárias, que podem ser associadas em um mesmo pensamento. Trata-se de figura de Linguagem ou figura de estilo que reúne ideias contraditórias dentro de um mesmo contexto. É interessante observar que a ideia paradoxal, muitas vezes parece ilógica, mas que pode perfeitamente estar dentro do real. Trata-se de uma contradição possível e que tem significado. A linguagem paradoxal vai além do senso comum. É utilizada para dar mais expressão ao texto, através da incoerência. Também pode ser usada para manifestar ironia.